Rota Bioceânica está sendo construída por muitas mãos, diz Vander Loubet

Sonho de décadas, a Rota Bioceânica avança em ritmo acelerado. Na última sexta-feira (25), o Governo do Paraguai entregou o primeiro trecho do Corredor Bioceânico, com 275,73 quilômetros, ligando Loma Plata, departamento de Boquerón, até Carmelo Peralta, no Alto Paraguai. A construção teve início em 11 de fevereiro de 2019 e foi concluída dois meses antes da data prevista.

O deputado federal Vander Loubet, que foi um dos diversos personagens que participaram do processo de viabilização do corredor logístico, concedeu uma entrevista exclusiva ao site Rota Bioceânica.

A Rota Bioceânica é um sonho antigo, que contou com um trabalho muito forte do senhor e do então governador Zeca do PT. Como se deu a trajetória da construção desse corredor logístico daquele tempo até hoje?

Vander Loubet – Estou profundamente envolvido com o processo de construção do Corredor Bioceânico, desde a época em que fui secretário de Estado, passando pelos meus cinco mandatos como deputado federal. Foi um longo processo de articulação política com a representação diplomática do Paraguai no Brasil até a viabilização da entrada da Itaipu Binacional como financiadora da ponte entre Carmelo Peralta e Porto Murtinho.

Porém, justiça seja feita, o sonho da Rota é uma coisa anterior ao período em que o Zeca foi governador e eu secretário de Estado. Nessa questão, para mim, é sempre importante relembrar o papel do Heitor Miranda nesse processo. Ele foi um embaixador informal dos interesses de Murtinho e de Mato Grosso do Sul sobre a Rota. Encontrou muitos parceiros que também imaginavam a construção física de um corredor de integração. Até foi presidente da Zona de Integração do Centro-Oeste da América do Sul (Zicosul), uma entidade criada para fomentar o debate sobre a integração da América Latina e a construção do Corredor Bioceânico.

Também é importante destacar que a Rota foi e segue sendo construída por muitas mãos. Só como exemplo: o Heitor, na campanha para governador em 1990, junto com outros prefeitos, buscou o apoio do Pedro Pedrossian ao compromisso de asfaltar a rodovia de Jardim a Murtinho, porque ele sabia que essa pavimentação ajudaria a viabilizar um caminho para o Oceano Pacífico. Essa pavimentação foi concluída no governo do Zeca (junto com outras pavimentações importantes na região, como as ligações entre Antônio João, Bela Vista e Caracol). De lá para cá o projeto foi avançando até chegar o momento em que estamos, com ações muito importantes por parte da gestão do governador Reinaldo Azambuja, que tem sido parceiro no atendimento das nossas reivindicações a respeito da Rota, e também com a participação do Marun, que foi conselheiro de Administração da Itaipu Nacional.

A primeira etapa da Rota Bioceânica, entre Loma Plata e Carmelo Peralta, atravessando o Chaco Paraguaio, está pronta. E no Brasil, o que tem sido feito para nos preparar para esse novo corredor logístico após a conclusão da ponte entre os dois países? Como o senhor tem trabalhado para isso?

Vander Loubet – Nossa bancada federal e o Governo do Estado estão mobilizados e trabalhando ativamente pela conclusão da parte brasileira no Corredor Bioceânico.

Tenho destinado emendas parlamentares para Porto Murtinho e atuado em parceria com o Estado para viabilizar obras de maneira a preparar o município para a Rota. É o caso do contorno rodoviário de 7 km construído para disciplinar o tráfego pesado e dar maior rapidez à chegada de cargas para os portos à beira do Rio Paraguai, uma obra importante realizada pelo governador Reinaldo atendendo a pleitos nossos e do poder público de Murtinho.

Além disso, nossa bancada tem destinado emendas conjuntas para contribuir com a preparação da logística em todo o nosso estado. São R$ 15 milhões para a construção do contorno viário em Três Lagoas, R$ 28 milhões para o Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] aplicar na manutenção das BRs 267 e 262 (com abrangência na área de influência do Corredor Bioceânico) e R$ 5 milhões para obras no aeroporto de Dourados. Também colocamos outros R$ 139 milhões no PPA [Plano Plurianual] de 2020-2023 do governo federal para a construção do acesso da BR-267 à ponte sobre o Rio Paraguai.

Do ponto de vista econômico, qual será o impacto do Corredor Bioceânico durante e após a conclusão, na geração de empregos e oportunidades?

Vander Loubet – Acredito que todos temos a expectativa de que o impacto será grande. Inclusive, os estudos feitos sobre o corredor pelos entes governamentais e universidades (como é o caso de um estudo da UFMS viabilizado por emenda parlamentar de minha autoria) apontam isso.

 O aumento no movimento de cargas e produtos rumo à Ásia vai fomentar toda uma infraestrutura em nosso estado, principalmente na área de prestação de serviços. E isso não vai ficar restrito à questão logística, vai impactar em setores importantes, como o turismo. Toda essa movimentação de pessoas, veículos e cargas vai gerar uma série de demandas e oportunidades de negócios e de geração de emprego e renda.

A localização de Porto Murtinho coloca o município em uma situação privilegiada. Ele vai se transformar em um hub logístico? Como medir o impacto disso para um município de apenas 17 mil habitantes?

Vander Loubet – A tendência é que sim, Murtinho se torne um hub logístico. Isso é algo muito positivo, mas que também demanda atenção e preocupação do poder público, afinal, a cidade precisa ser preparada para essa condição.

 Nesse sentido, como eu disse antes, posso afirmar que há, tanto por parte do meu mandato quanto do Governo do Estado, um trabalho para essa preparação. Desde 2015, tenho trabalhado em parceria com o Estado para viabilizar obras e ações em Murtinho que possam melhorar a infraestrutura do município.

 Além disso, temos destinado recursos para melhoria dos serviços públicos de saúde. É da minha autoria, por exemplo, uma emenda parlamentar de R$ 1 milhão para reforma e ampliação do Hospital Municipal. A gente tem que pensar nesse tipo de coisa. O aumento no fluxo de pessoas pela cidade vai gerar, por exemplo, um aumento da demanda por serviços de saúde. Essas ações estão sendo articuladas com a Prefeitura justamente para que a cidade possa se equipar para o que está por vir com o Corredor Bioceânico.

 E qual o impacto da Rota para Campo Grande?

Vander Loubet – Entendo que o impacto para Campo Grande pode ser muito positivo, porém as possibilidades e as oportunidades atingem também Bonito, Jardim, Maracaju, Dourados… todos os nossos municípios poderão se beneficiar da Rota, uns mais, outros menos. Acredito que é uma questão de o poder público e o empresariado de cada cidade saber analisar essas oportunidades e possibilidades e se preparar com eficiência e competência para aproveitá-las. E isso vale para Campo Grande, afinal, é importante a gente ter em mente que o fato de ser a capital do estado não é garantia de que terá ganhos efetivos com o Corredor Bioceânico. Nesse sentido, há estudos (como o da UFMS, que é financiado por emenda parlamentar de minha autoria) que poderão trazer uma parte dessa análise para Campo Grande e os demais municípios.

 Na sua avaliação, o Corredor Bioceânico será também uma janela de oportunidades para fortalecer o intercâmbio cultural da América do Sul e para fortalecer o turismo?

Vander Loubet – Com certeza. Vou te dar um exemplo: recentemente, um assessor meu passou um fim de semana em Bonito e Bodoquena e me contou que chamou a atenção dele a quantidade de turistas paraguaios nessas cidades, viajando de carro. Com a conclusão da rota, nossas cidades turísticas podem passar a receber mais visitantes, não apenas de outras regiões do Paraguai (que não da fronteira), mas também da Argentina e do Chile. A Rota tem tudo para se tornar um meio de integração turístico e cultural.

 A questão ideológica do governo Bolsonaro pode atrapalhar o comércio com os países asiáticos?

Vander Loubet – Sim e não. Atrapalha por um lado, pois a falta de visão e de maturidade política do Bolsonaro e sua equipe mais próxima – ou seja, seus filhos – gera conflitos e estresses desnecessários com a China, que é a principal parceira econômica do Brasil no momento (sobretudo para Mato Grosso do Sul, pelo fato de sermos um estado exportador de commodities).

 Por outro lado, independentemente de partidos, o Brasil construiu ao longo dos anos uma relação muito amistosa com os países que são parceiros econômicos. Nossa diplomacia sempre foi conciliadora e nosso empresariado sempre entendeu a importância de construir pontes com a China e os demais países asiáticos. Então, acredito que um governo de quatro anos que se comporta fora da rota não será o suficiente para destruir essa relação.

Rota Bioceânica

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