Meirelles pede liderança firme e critica quem quer “agarrar” parte do Orçamento

O secretário estadual de Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, disse que o governo federal precisa ter “liderança firme” que dialogue com “respeito e serenidade” com o Congresso. E criticou quem quer “agarrar seu pedaço” do Orçamento de 2021.

Eis a conversa do Poder Entrevista, gravado na 4ª feira (16.abr.2021). Assista (40min22s):

 

 

Meirelles foi presidente do BC (Banco Central) de 2003 a 2011. Comandou o Ministério da Fazenda (ex-Economia) no governo Michel Temer e saiu em abril de 2018 para ser candidato à Presidência da República pelo MDB. Hoje filiado ao PSD, avalia disputar uma vaga no Senado pelo Estado de Goiás.

Com as frequentes dúvidas sobre a permanência de Paulo Guedes (Economia) no cargo, disse que eventualmente é questionado se poderia voltar a chefiar a equipe econômica do governo. Responde, porém, que seu foco é a Secretaria que administra em São Paulo. Usou a mesma resposta para tratar de eventual convite do ex-presidente Lula para ocupar espaço na campanha presidencial de 2022.

“Eu trabalho com a realidade, no futuro vamos ver as possibilidades, as alternativas. E aí eu vou tomar a decisão, inclusive essa de me candidatar ou não para o Senado no próximo ano”, afirmou.

Guedes enfrenta um impasse com o Orçamento da União de 2021 e no relacionamento com o Congresso. O projeto aprovado subestimou o volume de despesas obrigatórias –aquelas que necessariamente precisam ser empenhadas.

Ao não corrigir o montante, o Orçamento deste ano fica “inexequível”, nas palavras de Guedes. O ministro alertou o presidente Jair Bolsonaro que ele poderia sofrer impeachment. Até 6ª feira (16.abr.2021), ainda não havia decisão sobre vetos.

Para Meirelles, a solução seria possível com diálogo “sério, franco e realista” com o Congresso e uma liderança “firme” do governo federal.

O secretário defendeu o teto de gastos, emenda constitucional aprovada em 2016 durante sua gestão no Ministério da Fazenda. “A violação do teto de gastos (…) levaria (…) a um sistema de autocorreção muito forte, muito bem feito, onde leva a uma paralisação nominal de uma série de despesas públicas”, disse.

Quando há propostas para tirar despesas do teto, há uma “perda de confiança muito grande” na economia. “Não vamos ‘aperfeiçoar’, e aí é aperfeiçoar entre aspas. ‘Vamos aperfeiçoar, e tirar esse tipo de despesa aqui que é fundamental, tira essa do teto’. Aí não funciona. De fato, a situação começa a deteriorar a confiança na economia”, declarou.

A imprensa divulgou que Paulo Guedes preparava uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) com medidas para furar o teto, o que preocupou parte do mercado financeiro.

CRESCIMENTO ECONÔMICO

Meirelles comandou o Ministério da Economia de 12 de maio de 2016 a 6 de abril de 2018. O PIB caiu 3,3% no 1º ano que esteve no governo. Subiu 1,1% em 2017. Em 2018, o crescimento foi de 1,8%.

Dois anos depois, a economia brasileira voltou a ter recessão: tombou 4,1% em 2020 por causa da pandemia de covid-19.

De acordo com ele, o piso de crescimento de 2021 será de 3% diante do “carregamento estatístico” do último trimestre do ano anterior. Segundo ele, o crescimento nos últimos 3 meses do ano levou o país para um nível de atividade que, se for mantido em 2021, permitirá a expansão.

Um crescimento acima de 3% é praticamente assegurado. A única razão pela qual poderia crescer a economia é se a economia entrar em recessão. Mas em uma saída de pandemia é difícil piorar“, afirmou.

Ainda assim, Meirelles disse que esse não é um percentual “bom“, mas “aceitável”.

O mundo deve crescer uma média de 6%, depois de uma queda forte de 3,5% ano passado. O Brasil caiu 4,1%“, disse o secretário.

REFORMAS ECONÔMICAS

Para o ex-ministro, que implementou o teto dos gastos em 2016 mas não conseguiu avançar com a reforma da Previdência, a agenda prioritária atual é a de produtividade.

Ele elencou duas como as mais importantes:

  • reforma tributária;
  • reforma administrativa.

Meirelles falou que é urgente simplificar a tributação no Brasil, que “complica” as atividades dos municípios, Estados, empresários e população. “Temos que fazer uma reforma tributária bem feita, ampla“, disse. Citou mudanças nos impostos federais, municipais e estaduais.

Sobre a reforma administrativa, Meirelles disse que implementou novas regras para o funcionalismo em São Paulo. Disse que permitiu ganhos no controle de despesas públicas e abriu espaço para novos investimentos.

O ministro Paulo Guedes (Economia) propôs mudanças para o Poder Executivo Federal. Por enquanto, sem grandes avanços no Congresso.

Para a reforma administrativa federal, é muito importante que corte um pouco as despesas permanentes e possamos fazer Orçamentos realistas. Ter ao mesmo tempo recursos  para investimento e  alocação para os parlamentares“, afirmou o secretário.

Para ele, a agenda de concessão, privatizações e parcerias começou a dar mais sinal neste ano, mas é preciso ter mais vigor. Meirelles disse que há capital internacional disponível para a alocação de recursos no Brasil.

VACINAÇÃO ATRASADA

Apesar do Ministério da Saúde prever a imunização de metade dos brasileiros até o meio do ano, o secretário de Fazenda de São Paulo –Estado produtor de vacinas da CoronaVac– avalia que a imunização só será possível no 2º semestre, possivelmente no 3º trimestre.

“O Brasil está muito atrasado na vacinação. Existe uma vacinação forte no Estado de São Paulo e a produção de vacinas pelo Instituto Butantan. Das vacinas que foram aplicadas, mais de 80% são a CoronaVac. Felizmente, o Butantan está puxando esse carro. Mas não há dúvida que é um ritmo um pouco lento, porque isso é distribuído pelo Brasil inteiro”, disse.

Afirmou que o “nome do crescimento” de 2021 chama-se vacina contra a covid-19. “O ritmo em 2021 será ditado pelo ritmo da vacinação. E depois, em 2022, tem ainda um reflexo importante disso. Se toda a população estiver vacinada, aí é outra coisa. Se não, ainda tem algum efeito residual, negativo”, disse Meirelles.

Fonte: Poder360

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