Após rejeitar ‘pacto com comunistas’, Milei se aproxima da China e preocupa o Brasil
Após criticar a China durante sua campanha de 2023, o presidente argentino Javier Milei deu uma reviravolta em sua postura e agora busca fortalecer laços com o país asiático, o que tem preocupado o Brasil. A China é atualmente o segundo maior parceiro comercial da Argentina, ficando atrás apenas do Brasil, e com a esperada recuperação econômica argentina em 2025, há uma previsão de crescimento nas exportações chinesas para o país vizinho.O governo brasileiro, através do Itamaraty, está atento aos movimentos de Milei, que poderiam impactar diretamente as exportações brasileiras. A recessão argentina, com uma queda do PIB projetada em 3,5% para este ano, afetou as importações brasileiras e chinesas, mas a expectativa é que uma recuperação gradual da economia aumente a competição entre Brasil e China pelo mercado argentino.
As importações argentinas de produtos brasileiros caíram 37,3% nos primeiros seis meses de 2024, enquanto as exportações chinesas caíram 32,6% entre janeiro e agosto. O embaixador brasileiro em Buenos Aires, Julio Bitelli, destaca a importância de recuperar o comércio bilateral com a Argentina, que já foi de US$ 40 bilhões entre 2010 e 2011, mas caiu para US$ 23 bilhões no ano passado.
A China, que vem ganhando espaço no mercado argentino, é vista como uma grande concorrente para o Brasil. Entre 2003 e 2023, o comércio entre Argentina e China cresceu mais de 500%, com um aumento de 1.900% nas exportações chinesas para o país. Esse crescimento é uma ameaça ao Brasil, que busca manter sua liderança em setores-chave de produtos industrializados.
A decisão recente de Milei de reduzir tarifas de importação para cerca de 80 produtos, beneficiando potencialmente produtos chineses, acendeu um alerta no governo brasileiro. Essa abertura econômica, pilar do programa de Milei, representa um desafio para o Brasil, que enfrenta concorrência acirrada da China.
A relação com a China também foi reforçada após a renovação do acordo de swap cambial com o Banco Central argentino, essencial para cobrir necessidades de financiamento durante negociações com o FMI. Esse apoio chinês foi fundamental para a Argentina, que enfrenta dificuldades de obter financiamento internacional.
Em uma recente entrevista, Milei elogiou a China como um “parceiro muito interessante”, ressaltando que o país asiático “não exige nada”, um claro recado aos EUA. Em resposta, o embaixador dos EUA em Buenos Aires solicitou uma reunião com Milei para discutir a relação da Argentina com a China.
O analista Bernabé Malacalza aponta que Milei utiliza a relação com a China como uma ferramenta de negociação com os EUA, especialmente na esperança de uma vitória de Donald Trump nas próximas eleições, o que facilitaria a relação com o FMI.
O interesse da China na Argentina é expandir o comércio, investir e fortalecer acordos financeiros, enquanto os EUA buscam uma aliança focada em defesa e segurança. A competição entre China e EUA reflete a disputa de influência no país sul-americano, que é vista com preocupação por empresários argentinos e brasileiros.
Tanto Brasil quanto China aguardam a esperada reativação econômica argentina, preparando-se para uma concorrência intensa. Para o Brasil, a vantagem é estar no Mercosul, mas há preocupações sobre o cumprimento das regras do bloco após a recente redução tarifária na Argentina.
O Brasil está atento a possíveis violações das normas do Mercosul em uma abertura econômica mais ampla da Argentina, cenário que favoreceria a China. Com a recuperação econômica argentina, a concorrência entre os dois gigantes será inevitável e mais intensa, especialmente em um ambiente de maior liberalização.
FONTE: O Globo
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